Essa noite fui cuidadosamente poupada de alguma palavra dura proferida por alguém. Perguntada se havia ficado chateada com o que a pessoa tinha dito reagi confusa e respondi que não entendia o por quê daquela pergunta, que eu não havia ouvido nada. Que privilégio imenso não ter escutado, de alguma forma meus ouvidos foram tampados momentaneamente para que eu não ouvisse aquelas palavras. Palavras machucam com uma rapidez e dureza imensas, podem ser extremamente afiadas e cortar com uma precisão assombrosa. Entre as armas mais perigosas, particularmente, acredito que as palavras estejam entre elas, porque cortam o coração, a confiança, a autoestima. E é impossível puxar as palavras de volta à boca uma vez que elas já saíram.
Todos esses fatos verdadeiros me fizeram refletir essa noite e algumas outras sobre como as minhas palavras têm sido utilizadas. Sábias palavras as de Tiago quando diz que da mesma boca procedem bênção e maldição e que não pode ser assim (Tg 3:10). Nosso vocabulário anda ficando muito rico, para o bem e para o mal, bom seria se somente soubéssemos palavras de ânimo e encorajamento ao invés daquelas que ferem.
Também refleti sobre as motivações que me levavam a proferir uma série de palavras, a conclusão é simples: a vida. A rotina, os pensamentos, as pessoas com quem convivo, as situações agradáveis e desagradáveis, os imprevistos, os compromissos, as obrigações, meus defeitos e falhas, minhas qualidades. Seria bom segurar as palavras desagradáveis, poder domar a língua e poupar as pessoas em volta de ouvir uma série de palavras impensadas, ou pensadas até demais.
Lucas também me fez refletir sobre o real motivo das palavras que saem da minha boca, ele diz que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6:45). Claramente o problema vem de dentro, do lugar que poucos conseguem enxergar, mas, para infelicidade coletiva, muitos podem ouvir.
Hoje eu fui poupada de algumas palavras, provavelmente, duras de alguém. E, da mesma forma, pretendo poupar muitos das palavras duras que meu coração profere. Não porque as pessoas serão sempre cuidadosamente protegidas das minhas palavras com uma surdez momentânea, mas porque minhas palavras estarão sendo modificadas, na mesma proporção do coração.