domingo, 22 de janeiro de 2012

Problema de Coração


Essa noite fui cuidadosamente poupada de alguma palavra dura proferida por alguém. Perguntada se havia ficado chateada com o que a pessoa tinha dito reagi confusa e respondi que não entendia o por quê daquela pergunta, que eu não havia ouvido nada. Que privilégio imenso não ter escutado, de alguma forma meus ouvidos foram tampados momentaneamente para que eu não ouvisse aquelas palavras. Palavras machucam com uma rapidez e dureza imensas, podem ser extremamente afiadas e cortar com uma precisão assombrosa. Entre as armas mais perigosas, particularmente, acredito que as palavras estejam entre elas, porque cortam o coração, a confiança, a autoestima. E é impossível puxar as palavras de volta à boca uma vez que elas já saíram.
Todos esses fatos verdadeiros me fizeram refletir essa noite e algumas outras sobre como as minhas palavras têm sido utilizadas. Sábias palavras as de Tiago quando diz que da mesma boca procedem bênção e maldição e que não pode ser assim (Tg 3:10). Nosso vocabulário anda ficando muito rico, para o bem e para o mal, bom seria se somente soubéssemos palavras de ânimo e encorajamento ao invés daquelas que ferem.
Também refleti sobre as motivações que me levavam a proferir uma série de palavras, a conclusão é simples: a vida. A rotina, os pensamentos, as pessoas com quem convivo, as situações agradáveis e desagradáveis, os imprevistos, os compromissos, as obrigações, meus defeitos e falhas, minhas qualidades. Seria bom segurar as palavras desagradáveis, poder domar a língua e poupar as pessoas em volta de ouvir uma série de palavras impensadas, ou pensadas até demais.
Lucas também me fez refletir sobre o real motivo das palavras que saem da minha boca, ele diz que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6:45). Claramente o problema vem de dentro, do lugar que poucos conseguem enxergar, mas, para infelicidade coletiva, muitos podem ouvir.
Hoje eu fui poupada de algumas palavras, provavelmente, duras de alguém. E, da mesma forma, pretendo poupar muitos das palavras duras que meu coração profere. Não porque as pessoas serão sempre cuidadosamente protegidas das minhas palavras com uma surdez momentânea, mas porque minhas palavras estarão sendo modificadas, na mesma proporção do coração.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Meias


Vou compartilhar um gosto diferente que eu tenho: gosto de observar meias. Sabe quando alguém senta no ônibus ou numa mesa de um restaurante e a calça mostra um pouquinho da meia? Ou quando a meia simplesmente está lá, em uma foto ou aparecendo propositalmente? Nessas ocasiões, gosto de observar meias. Não porque eu seja uma amante dessas peças de roupas, nem porque eu tenha uma coleção delas, mas porque elas me lembram simplicidade e igualdade. No fundo, todo mundo é igual. Não importa quem você seja, onde você trabalha, quem é sua família, que lugares você frequenta. A sua meia nunca vai ser tão diferente das demais. Mudam as cores, as estampas, o tecido, mas são meias e, na minha leiguice sobre elas, são todas iguais. Se, por exemplo, existisse uma forma de fazer todo mundo sair só de meias, sem calçar sapatos um só dia que fosse, pelo menos nesse dia não existiriam sapatos italianos, tênis de marcas famosas e até chinelos de sabe-se lá que estilista conceituado. Seriam apenas meias, coloridas e até meio bregas, por todos os lados. E eu iria gostar, até ficaria em dúvida sobre qual meia eu usaria. E, talvez, fosse bem mais divertido e muito menos competitivo. Gosto muito dessa ideia de continuar observando meias.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Em obras


Estou precisando lidar comigo, aprender a viver novamente nesses dias irregulares, nessa casa, de um jeito diferente de como acostumei. Mas essa é a verdade, não é? Nada é cômodo. Enquanto aprendo a lidar novamente com a vida, compreendo que assim que eu souber os macetes para cada situação, elas já não existirão ou terão mudado muito para meus truques funcionarem. Estou precisando de uma cabeça vazia, sem tanto pra pensar, sem tanto para fazer. Como foi que eu consegui uma cabeça lotada nas férias? Como foi que isso foi acontecer? Cresci demais, a responsabilidade e as obrigações bateram na minha porta e eu abri demais. Estou precisando lidar comigo, reler o manual de instruções e mexer os botões certos. Paciência, comigo e para mim.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Aleatório


Não adianta, tem gente que nasce com memória muito limitada. É necessário, dessa forma, que essas pessoas, como eu, optem pelo que querem guardar na memória. Felizmente para alguns, infelizmente para tantos outros, eu optei pela minha cultura seletiva. Não sei nada de política, mas nada de nada mesmo; nunca fui persistente o bastante para acompanhar campeonatos de qualquer esporte que seja; pouco assisto aos telejornais que, convenhamos, só mostram tragédias; e jornal eu leio todos os dias, a parte que fala sobre música, cinema, novelas e algumas crônicas. Sim, a maioria acha decepcionante não ter conhecimento sobre o que anda acontecendo ao redor, mas, na verdade, eu até sei, mas escolho por não discutir sobre nada disso; e isso ainda não me fez falta. Gosto mesmo é dos personagens fictícios, de analisar expressões faciais, chorar no fim dos filmes, dar risada lendo meus livros. Gosto de me apegar aos personagens das minhas séries favoritas, sem os abandonar entre uma temporada e outra. Gosto de largar meu livro à noite e no outro dia terem fatos diferentes com os mesmos personagens já amados por mim. Da mesma forma a música me move, mais do que deveria talvez. Conheço e gosto de uma infinidade de bandas e cantores; quase não tenho preconceitos com estilos e ritmos. Gosto das minhas músicas, não as que eu faço (por mais que, por vezes, tenha dado umas arranhadas como compositora), mas as que me acompanham. Desde que consigo me lembrar eu sempre acordei com alguma música na cabeça, desde aquelas que ouvia quando criança até as que grudavam na minha cabeça sem querer. E é bom, gosto de viver com música rodando na minha cabeça, definindo os momentos, fazendo parte dos meus dias.
Eu optei pela minha cultura. Que pode parecer pouca, talvez até seja, mas me move e me faz feliz. E, enquanto eu viver, sempre recorrerei para as frases encontradas em meio aos meus livros; sempre me apegarei aos personagens de seriados e até os defenderei quando forem criticados nas rodas de conversa; e sempre, sempre mesmo, terei música tocando dentro de mim, fazendo trilha sonora pra minha vida de cultura seletiva.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano novo, vida nova


Temos, como seres humanos, a capacidade de vivermos ano após ano em ciclos intermináveis de férias, sossego, trabalho, muito trabalho, cansaço e exaustão; e, então, retornamos para as férias, ou as pulamos direto para o trabalho tentando conciliá-lo com o sossego tão almejado por todos nós. Viramos ano após ano, tentando fugir da máquina do consumismo, do fazer para ter, do ter para demonstrar algo que deveria valer muito menos do que o que somos realmente, nosso caráter. "Ano novo, vida nova", frase utilizada por muitos, vivida por poucos e compreendida por menos ainda. A moral não é mudarmos toda a nossa vida no ano que virá. É renovar a mente, adquirir novos pensamentos, conscientizar-se de onde estamos e para onde queremos ir. Criar novos sonhos e concretizar os possíveis e, porque não, os que acreditávamos impossíveis? Vida nova é reciclar velhas ideias, amadurecer com o tempo, lutar pelo que realmente vale a pena, deixar de lado o que nos prende e nos faz mal. Dar o melhor de nós, seguir em frente, não permitir que as críticas nos paralisem nem nos façam desanimar. Aprender a lidar, lidar com tudo aquilo que o ano novo trará. Ano a ser descoberto, vida que segue, melhora, transforma. Ano novo, vida que se renova.
Feliz 2012!

Querido 2011,


Sei que você já terminou e que as lembranças que tenho de ti um dia serão poucas. Não, elas não serão poucas porque não são importantes, mas porque, talvez, o tempo leve minha memória de jovem e substitua por uma mais seletiva, que absorva menos do que consigo hoje. Mas é necessário, ainda assim, que você seja lembrado como um dos melhores anos da minha vida. Talvez, o melhor até hoje. Não que isso signifique que não desejei incansavelmente que você terminasse logo ou que aliviasse um pouco meus dias. Não que nós não tenhamos nos estranhado em alguns dos seus dias, dos quais eu fiz parte de todos. É só que você foi muito importante pra mim. Como esquecer do seu primeiro dia com toda a família reunida? Daquelas primeiras semanas de janeiro esperando notícias de quem estava em Gramado? Ou das férias na praia com uma das minhas melhores amigas, vendo o sol nascer e conversando nos fins de tarde sobre Deus e sobre tudo que vinha em mente? Como esquecer de fevereiro e da família nova que eu ganhei? Aquelas seis meninas que ainda hoje permanecem no meu coração e na maioria das memórias que guardo sobre você. Como poderia eu deixar de lembrar das jantas que fazíamos todas juntas na república? Como esquecer do feriado de carnaval e de como tudo mudou por causa dele? Como esquecer daquela quarta à noite em que ele esperou cinco minutos embaixo do meu apartamento pra mudar todo o meu ano? Como esquecer das noites esperando ele voltar da aula para conversarmos um pouco? Das sextas à noite em que eu me preocupava em silêncio e orava pra que ele voltasse bem pra casa? Como poderia esquecer dos trabalhos que me enlouqueceram no início do ano e que eu acreditava que não daria conta? Ou como esquecer do acampamento de páscoa, do blackout, da tempestade no sábado à noite? Como esquecer das viagens para Sapiranga, Bento e Farroupilha? Como esquecer das pessoas que conheci e convivi durante o teu decorrer? Como esquecer dos cafés no fim de tarde com uma das grandes amigas que ganhei esse ano? Como esquecer dos conselhos que ela me dava e das dúvidas que ela respondia? Como esquecer das pessoas que entraram no meu grupo nos sábados à noite e que me fizeram mudar? Como esquecer do tempo com meus pais, tão restrito e tão fundamental? Como eu poderia deixar de lembrar das viagens em São Paulo e de como aquela briga mudou quem eu era? Como esquecer das minhas férias de inverno em casa? Como eu poderia esquecer do dia 27 de julho com os pássaros de dobradura espalhados pela casa? Como esquecer dos primeiros meses de namoro, dos últimos meses com minha família de sete, do casamento da minha irmã, das dúvidas sobre faculdade, dos amigos que ganhei, das formaturas que fui, das surpresas, das conversas, das cartas que recebi? Como eu poderia esquecer do passeio em Bento no final do ano? Como eu poderia esquecer do natal com fondue ou da tua última semana em Santa Maria? Como eu poderia esquecer do sorriso com que eu pude deixar você passar e recepcionar o ano que vinha? Não posso esquecer nunca disso, não quero esquecer. Serão lembranças, porém, antes de fechar a caixa e rotulá-la com teu nome, 2011, eu preciso te dizer: como foi bom viver esse ano, compreender situações e pessoas com olhos diferentes. Como foi bom ter mudado e entender que a mudança não termina contigo, que as pessoas, os lugares, os momentos que passei foram especiais, modificaram a mim, modificaram pra sempre. Sempre.

"Serão lembranças queridas, do futuro e da memória. Pra sempre será coragem, pra sempre será vitória!" Forfun