sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Homem íntegro



Precisamos aprender a dar o devido crédito às pessoas. Há menos de 48 horas o renomado arquiteto Oscar Niemeyer faleceu aos 104 anos. Mente brilhante, projetou variadas estruturas arquitetônicas pelo mundo, da Argentina à França, pelos cantos do Brasil, podemos vislumbrar construções inspiradas pelas vivências do arquiteto.
Mas, volto a dizer, precisamos aprender a dar o devido crédito às pessoas. E, no caso de Niemeyer, não me refiro às suas obras gigantescas e conhecidas mundialmente, nem à sua vasta idade ou sabedoria. Devemos dar crédito a ele por ter morrido sem dinheiro algum. Esse é o fato mais marcante de sua vida: Ele não poupou.
Quando os amigos do arquiteto passavam por dificuldades, necessitavam de recursos financeiros que não possuíam, lá estava Oscar auxiliando-os como podia. É claro que se tivesse poupado, hoje ele teria muitos recursos, mas ele compreendeu a vida antes do seu fim. Ele abriu mão de uma conta bancária de números altos por uma vida cheia de amizade, carinho e cuidado.
Ele cuidou daqueles que o cercaram ao longo dos seus 104, por pouco 105, bem vividos anos. E, dentre suas obras mais conhecidas, espero que esta seja a mais lembrada e aplaudida: a caridade. Caridade esta que não foi estampada nos jornais, nem forjada para dar-lhe renome como homem com“responsabilidade social”. Oscar Niemeyer foi uma perda para o Brasil, como arquiteto exemplar que foi e como modelo de desprendimento e bondade. Esta foi nossa maior perda, menos um homem íntegro neste país.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pra hoje


Uma música boa, pode ser uma mpb ou um reggae antigo. Um afago na cabeça, um abraço leve que envolva e nos carregue das preocupações. Uma mão amiga, um amor antigo que durou, uma brisa suave, um temporal de domingo, um sorriso contagiante. Não é necessidade, é vida, é o que eu queria pra hoje.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

'E o que sinto por você...

...não tem fim.' You and Me . SOJA


Já fui mais forte, fato comprovado. Já consegui viver três, quatro, ou até sete dias sem te ver e ficar bem. Eu consigo viver bem e consigo fazer tudo que é necessário ser feito, mas faço tudo com uma saudade no peito. Podem ser dois dias, ou breves minutos, a saudade logo se instala ali. E fica. Perdura. Ela só vai embora quando tu chegas e da mesma forma se realoja em mim quando tu partes. Um dia já não teremos mais essas partidas tão constantes. Voltar pra casa significará voltar pra ti e te encontrar ali tão perto como sempre se quis. Um dia não haverá mais boa noite por telefone, nem dias sem se ver. Um dia. Um dia essa saudade que só aumenta e aumenta, diminuirá. Nos tornará rotina, num sentido mais tranquilo da palavra. Seremos rotina, de uma forma boa.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Gargalhar



Comecei nesse emprego faz uma semana e alguma coisa, porque teve feriado e porque não me dei ao trabalho de quantificar o que passou. Mas eis que, não conhecendo muito intimamente nenhum de meus colegas de mesa, resolvi continuar aquele livro que peguei emprestado na biblioteca ali do andar de cima. Páginas vão, paginas vem (porque são internalizadas por mim), comecei a ler uma tal de “A Mulher Invisível”, nada muito diferente. Mas a crônica era, em todas as suas formas, escancaradamente engraçada. Comecei a rir, ora baixinho, ora abaixando a cabeça para não ser pega nesse momento que era só meu e daquela mulher invisível. Não houve jeito, fechei o livro e deixei a nossa piada interna para mais tarde, onde eu pudesse rir, digo, ler afoitamente aquela meia página que ainda me faltava. E nessas de conter o riso me deparei com uma palavra que há muito não fazia parte do meu vocabulário: gargalhar. E nem pesquisei sinônimos no dicionário, só sei que não era só dar risada, era gargalhar, aquele mais impulso do que ação planejada, mais incontrolável que a vontade de terminar de ler sobre a tal da mulher invisível.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Parafraseando


"Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões - se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer "te anima" e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as razões têm essa mania de serem discretas.
"Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down..." Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. "Não quero  te ver triste assim", sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço, nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está  calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos."

A Tristeza Permitida - Martha Medeiros

domingo, 5 de agosto de 2012

Lista de contentamento


E aí, ao invés de seguir a maré dessa sociedade enfurecida, decidi que não quero dizer hoje aquilo que cansei  e de como odeio (me irrito/frustro) com certas circunstâncias. Portanto, prefiro elencar o que me faz pensar em coisas boas, que me agradam, dão sensação de aconchego, de dia bom, de vida tranquila. Porque reclamar é a arte de todo mundo, agora ser contente é raro, tão raro que não me enquadro, mas tento.
Gosto de música acústica, domingo no sofá, filme mamão-com-açúcar, cozinhar em panela antiaderente, dias de sol, morango, cobertas fofas (no sentido de textura e cores), cafés, sites de casamento, sites de imagens, dirigir sozinha, ver e rever fotos, sucos, livros de romance, pessoas empolgadas, ideias novas, pizza, sapatilhas, vestidos, saias, jogos dinâmicos, banho, pantufas, dormir.
E, mesmo sendo apenas detalhes de uma vida com tanto mais pra se dizer, é disso que eu gosto (e tanto mais que se deixa de citar ou está nas entrelinhas) e é disso que sinto falta durante os dias em que não os tenho. São meus gostos, minhas preferências, minhas escolhas, meus sentimentos. Meus. Meu. Eu.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Pra ser verdade?


Que bom te amar e voltar a me apaixonar por ti a cada dia. Que bom receber tua visita pra fugir da rotina, receber teu carinho e poder cuidar de ti. Que bom ter piadas internas contigo, ser tua amiga antes e acima de tudo. Que bom encarar a vida do teu lado, ter um ombro pra minha cabeça descansar, ter teu sorriso pra me confortar numa segunda-feira. Que bom ter teu jeito tão parecido com o meu, fazer as mesmas brincadeiras, ser tão nós. Que bom, que bom, que bom! Bom demais, realidade.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Amor é...


Amor. Amor também é essa coisa de carinho, de cuidado. Amor é grande demais para ser definido, mas têm características importantes pra ressaltar. Me falam que amor é sentimento, concordo, mas também é decisão, ação. E na ação encontram-se o cuidado e o carinho. Não tem como cuidar só falando, se cuida caminhando junto, escrevendo um bilhetinho de vez em quando, passando segurança de se estar perto. Carinho não é só palavra, é preciso ver. Da mesma forma dizer que se ama, é preciso dizer e mostrar isso através de atitudes, e relembrar sempre que possível. Não esperar até que tudo isso torne-se necessário. Precisa ser antes. Antes que se duvide, que se esqueça, que se perca. Amor é carinho. Amor é cuidado também.

sábado, 9 de junho de 2012

Eu preciso


Eu preciso de um novo fôlego, um novo ânimo, uma nova forma de viver. Preciso sair dessa rotina que me prende à sobrevivência e me arranca suspiros longos de paciência ao invés de me dar aqueles longos de alegria, de contemplação, de beleza.
Eu preciso de um tempo pra mim, pra descansar, lembrar quem eu sou e como vim parar aqui. Preciso parar tudo pra compreender o que está em volta, definir o que compõe os borrões ao redor da minha vida e descobrir que, na verdade, os borrões eram parte necessária para construí-la.
Eu preciso desaprender a usar os pés pra que, mesmo tropeçando, eu não corra, eu aprenda um ritmo mais leve, uma forma mais suave de levar a vida, de vivê-la sem deixar passar o que é realmente prioridade.
Eu preciso de coisa simples, não é muito, não. Eu preciso reconstruir minha maneira de viver, de ver, de sentir. Eu preciso desaprender.

domingo, 20 de maio de 2012

Nós

Hoje lembrei de vocês, na verdade, o melhor mesmo é dizer que "revivi nós". Eu sempre lembro, sempre carrego vocês comigo. Mas hoje eu revivi nossas histórias, nossas loucuras de família. Eu sei quem eu sou e quem vocês são, no meio de tanto ser e saber, sei quem nós somos e amo a gente. As roupas foram ficando parecidas, o jeito de lidar com a vida, a forma coletiva de rir e fazer piada. Cada uma única, cada uma na sua subjetividade tão comum entre todas nós. Nos tornamos irmãs de alma, colegas de apartamento, confidentes, parceiras nos detalhes. E na ânsia de sempre definir tudo, penso em quem fomos e nos tornamos, penso nas qualidades e defeitos, nas brigas, incertezas, amores e outras coisas mais. Não há definição à altura, não há vida inteira que supere tudo que vivemos. É somente e tudo isso, somos "nós". A definição mais vaga pra um amor maior do que meras palavras soltas por aqui. Hoje revivi nós e amei tudo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Absurdo

Nem parece, mas já faz bastante tempo desde que aprendemos a dar os primeiros passos olhando em frente ao invés de cuidar o chão. Não parece também, mas aparentemente gostamos de regredir nesse fato. O que tem de gente cuidando do chão, pechando nas pessoas em volta, nem notando o que está em frente, é um número absurdo. Um número absurdo pra uma individualidade absurda.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Que venha quente...

A cidade está ficando com cara de inverno, acinzentando aos poucos. Em contrapartida, parece que a esperança ainda anda encontrando uma forma de se renovar e dar as caras. Não quero dar muito lugar à esperança tão cedo, mas, pelo andar da carruagem, tem sonho renascendo, alegria se renovando e gente, que há muito não se via, enxugando as lágrimas e sorrindo. Não quero ser muito antecipada, mas acho que nunca vi um começo de inverno que tenha aquecido tanto o coração e colorido tanto a vida em volta. Que esse inverno venha, mas venha quente interiormente. Que o gelo de fora não atinja o interior, que somente a pele sofra, mas que o coração resista. Afinal, mesmo não querendo apressar nada, esperamos logo ver os primeiros frutos de uma primavera que não tardará em nos alcançar.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Certeza de nada


Um nó. Uma vontade de pisar num chão que não se vê há muito tempo. Uma vontade de 'sei-lá-o-quê'. Um sentimento que não se sabe definir. Um turbilhão de imagens correndo em frente à cabeça, uma certeza de nada. Quem dera esse incômodo fosse possível de explicar.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Prometo


"- Me promete uma coisa?
- O quê?
- Não vamos mais brigar. Cansa muito e eu não tenho mais forças pra isso.
- Tudo bem."

Esse diálogo aconteceu durante uma cena de um filme que assisti não faz muito. Esse diálogo acontece diariamente na minha mente, eu pergunto e eu prometo a mim mesma. Não brigar mais, não reclamar mais, não correr mais, não me estressar mais. Cansa muito, demais. E eu não tenho mais forças pra isso. Não tenho mais cabeça pra essas pequenas irritações e frustrações, não tenho mais vontade de rebater as coisas por rebeldia ou cansaço. Eu tenho me prometido diariamente que eu não vou mais brigar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Semicerrando


Ser leve, buscar harmonia, lutar pela paz, se impor sem precisar brigar. Hoje lembrei porque eu optei pelo jeito calmo de viver há algum tempo. Cansa brigar, lutar pelo que não vale a pena, reclamar de tudo, não modificar nada. E tá fácil se contaminar com esse mundo de reclamações, ingratidão, raiva e tristeza. Não é preciso nem procurar essa escolha ruim na vida próxima, ela salta em frente aos olhos. Difícil tá enxergar a vida boa, natural, calma e pacífica; pra essa a gente precisa semicerrar os olhos e torcer pra encontrar. Importante mesmo é permanecer alegre, sorrir, dar valor à paz e à simplicidade.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dizem que mulher...

...é o sexo frágil, mas que mentira absurda! Erasmo Carlos
Hoje pela manhã presenciei uma mulher caindo no meio da rua ao correr para pegar um transporte público. Ela levantou, sacudiu a poeira da roupa e pegou o transporte.
Pra mim essa é a prova de que valeu a pena, se hoje estamos um pouco mais próximas da igualdade entre homens e mulheres é porque deixamos de ser o "sexo frágil". Temos limitações, como qualquer ser humano. Sem muitos sentimentalismos: somos praticamente iguais. Exceto que precisamos conquistar um espaço que não nos era concedido, mas por merecimento e com garra chegamos; e por alguns detalhes mais. Sem maiores explicações ou reconhecimentos, lá vai o clichê: feliz dia internacional da mulher!

terça-feira, 6 de março de 2012

Vai na calma, aguenta firme


Os dias andam corridos e cheios de obrigações. Por isso tenho intercalado leituras necessárias com leituras optadas por mim. Tenho intercalado o silêncio com a risada e, quando possível, com a música. É uma questão de manter-se são enquanto a vida vai passando. É mentir pra si mesmo pensar que só porque o ano é dividido em dois blocos nós só precisamos aguentar até o fim do primeiro. Que haja energia pro ano inteiro, que o estresse não domine nossos dias, que a vida seja leve. E que a vida leve o que dela não se terá proveito algum.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Segue


Vai. Deixa esses medos de lado, essa indecisão, esse peso desnecessário. Pega as pequenas feridas e transforma em cicatrizes, deixa as coisas ruins da vida se tornarem meios para fins felizes. Vai, não fica olhando muito pra trás, não. Não rala tuas mãos por causa do passado, olha em frente, até onde a vista alcança. Quem olha pra trás demais, no mínimo, tropeça.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Azul


Quanta coisa boa tu me trouxe, quanta alegria, quanto amor. Essa transparência que tu me permitiu ver, essa calma com a vida, essa leveza pra encarar tudo. Eu te amo por quem tu é pra mim, pelo tempo juntos, pela compreensão, por ser meu melhor amigo sem se esforçar pra isso. O céu anda mais azul ultimamente.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Problema de Coração


Essa noite fui cuidadosamente poupada de alguma palavra dura proferida por alguém. Perguntada se havia ficado chateada com o que a pessoa tinha dito reagi confusa e respondi que não entendia o por quê daquela pergunta, que eu não havia ouvido nada. Que privilégio imenso não ter escutado, de alguma forma meus ouvidos foram tampados momentaneamente para que eu não ouvisse aquelas palavras. Palavras machucam com uma rapidez e dureza imensas, podem ser extremamente afiadas e cortar com uma precisão assombrosa. Entre as armas mais perigosas, particularmente, acredito que as palavras estejam entre elas, porque cortam o coração, a confiança, a autoestima. E é impossível puxar as palavras de volta à boca uma vez que elas já saíram.
Todos esses fatos verdadeiros me fizeram refletir essa noite e algumas outras sobre como as minhas palavras têm sido utilizadas. Sábias palavras as de Tiago quando diz que da mesma boca procedem bênção e maldição e que não pode ser assim (Tg 3:10). Nosso vocabulário anda ficando muito rico, para o bem e para o mal, bom seria se somente soubéssemos palavras de ânimo e encorajamento ao invés daquelas que ferem.
Também refleti sobre as motivações que me levavam a proferir uma série de palavras, a conclusão é simples: a vida. A rotina, os pensamentos, as pessoas com quem convivo, as situações agradáveis e desagradáveis, os imprevistos, os compromissos, as obrigações, meus defeitos e falhas, minhas qualidades. Seria bom segurar as palavras desagradáveis, poder domar a língua e poupar as pessoas em volta de ouvir uma série de palavras impensadas, ou pensadas até demais.
Lucas também me fez refletir sobre o real motivo das palavras que saem da minha boca, ele diz que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6:45). Claramente o problema vem de dentro, do lugar que poucos conseguem enxergar, mas, para infelicidade coletiva, muitos podem ouvir.
Hoje eu fui poupada de algumas palavras, provavelmente, duras de alguém. E, da mesma forma, pretendo poupar muitos das palavras duras que meu coração profere. Não porque as pessoas serão sempre cuidadosamente protegidas das minhas palavras com uma surdez momentânea, mas porque minhas palavras estarão sendo modificadas, na mesma proporção do coração.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Meias


Vou compartilhar um gosto diferente que eu tenho: gosto de observar meias. Sabe quando alguém senta no ônibus ou numa mesa de um restaurante e a calça mostra um pouquinho da meia? Ou quando a meia simplesmente está lá, em uma foto ou aparecendo propositalmente? Nessas ocasiões, gosto de observar meias. Não porque eu seja uma amante dessas peças de roupas, nem porque eu tenha uma coleção delas, mas porque elas me lembram simplicidade e igualdade. No fundo, todo mundo é igual. Não importa quem você seja, onde você trabalha, quem é sua família, que lugares você frequenta. A sua meia nunca vai ser tão diferente das demais. Mudam as cores, as estampas, o tecido, mas são meias e, na minha leiguice sobre elas, são todas iguais. Se, por exemplo, existisse uma forma de fazer todo mundo sair só de meias, sem calçar sapatos um só dia que fosse, pelo menos nesse dia não existiriam sapatos italianos, tênis de marcas famosas e até chinelos de sabe-se lá que estilista conceituado. Seriam apenas meias, coloridas e até meio bregas, por todos os lados. E eu iria gostar, até ficaria em dúvida sobre qual meia eu usaria. E, talvez, fosse bem mais divertido e muito menos competitivo. Gosto muito dessa ideia de continuar observando meias.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Em obras


Estou precisando lidar comigo, aprender a viver novamente nesses dias irregulares, nessa casa, de um jeito diferente de como acostumei. Mas essa é a verdade, não é? Nada é cômodo. Enquanto aprendo a lidar novamente com a vida, compreendo que assim que eu souber os macetes para cada situação, elas já não existirão ou terão mudado muito para meus truques funcionarem. Estou precisando de uma cabeça vazia, sem tanto pra pensar, sem tanto para fazer. Como foi que eu consegui uma cabeça lotada nas férias? Como foi que isso foi acontecer? Cresci demais, a responsabilidade e as obrigações bateram na minha porta e eu abri demais. Estou precisando lidar comigo, reler o manual de instruções e mexer os botões certos. Paciência, comigo e para mim.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Aleatório


Não adianta, tem gente que nasce com memória muito limitada. É necessário, dessa forma, que essas pessoas, como eu, optem pelo que querem guardar na memória. Felizmente para alguns, infelizmente para tantos outros, eu optei pela minha cultura seletiva. Não sei nada de política, mas nada de nada mesmo; nunca fui persistente o bastante para acompanhar campeonatos de qualquer esporte que seja; pouco assisto aos telejornais que, convenhamos, só mostram tragédias; e jornal eu leio todos os dias, a parte que fala sobre música, cinema, novelas e algumas crônicas. Sim, a maioria acha decepcionante não ter conhecimento sobre o que anda acontecendo ao redor, mas, na verdade, eu até sei, mas escolho por não discutir sobre nada disso; e isso ainda não me fez falta. Gosto mesmo é dos personagens fictícios, de analisar expressões faciais, chorar no fim dos filmes, dar risada lendo meus livros. Gosto de me apegar aos personagens das minhas séries favoritas, sem os abandonar entre uma temporada e outra. Gosto de largar meu livro à noite e no outro dia terem fatos diferentes com os mesmos personagens já amados por mim. Da mesma forma a música me move, mais do que deveria talvez. Conheço e gosto de uma infinidade de bandas e cantores; quase não tenho preconceitos com estilos e ritmos. Gosto das minhas músicas, não as que eu faço (por mais que, por vezes, tenha dado umas arranhadas como compositora), mas as que me acompanham. Desde que consigo me lembrar eu sempre acordei com alguma música na cabeça, desde aquelas que ouvia quando criança até as que grudavam na minha cabeça sem querer. E é bom, gosto de viver com música rodando na minha cabeça, definindo os momentos, fazendo parte dos meus dias.
Eu optei pela minha cultura. Que pode parecer pouca, talvez até seja, mas me move e me faz feliz. E, enquanto eu viver, sempre recorrerei para as frases encontradas em meio aos meus livros; sempre me apegarei aos personagens de seriados e até os defenderei quando forem criticados nas rodas de conversa; e sempre, sempre mesmo, terei música tocando dentro de mim, fazendo trilha sonora pra minha vida de cultura seletiva.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano novo, vida nova


Temos, como seres humanos, a capacidade de vivermos ano após ano em ciclos intermináveis de férias, sossego, trabalho, muito trabalho, cansaço e exaustão; e, então, retornamos para as férias, ou as pulamos direto para o trabalho tentando conciliá-lo com o sossego tão almejado por todos nós. Viramos ano após ano, tentando fugir da máquina do consumismo, do fazer para ter, do ter para demonstrar algo que deveria valer muito menos do que o que somos realmente, nosso caráter. "Ano novo, vida nova", frase utilizada por muitos, vivida por poucos e compreendida por menos ainda. A moral não é mudarmos toda a nossa vida no ano que virá. É renovar a mente, adquirir novos pensamentos, conscientizar-se de onde estamos e para onde queremos ir. Criar novos sonhos e concretizar os possíveis e, porque não, os que acreditávamos impossíveis? Vida nova é reciclar velhas ideias, amadurecer com o tempo, lutar pelo que realmente vale a pena, deixar de lado o que nos prende e nos faz mal. Dar o melhor de nós, seguir em frente, não permitir que as críticas nos paralisem nem nos façam desanimar. Aprender a lidar, lidar com tudo aquilo que o ano novo trará. Ano a ser descoberto, vida que segue, melhora, transforma. Ano novo, vida que se renova.
Feliz 2012!

Querido 2011,


Sei que você já terminou e que as lembranças que tenho de ti um dia serão poucas. Não, elas não serão poucas porque não são importantes, mas porque, talvez, o tempo leve minha memória de jovem e substitua por uma mais seletiva, que absorva menos do que consigo hoje. Mas é necessário, ainda assim, que você seja lembrado como um dos melhores anos da minha vida. Talvez, o melhor até hoje. Não que isso signifique que não desejei incansavelmente que você terminasse logo ou que aliviasse um pouco meus dias. Não que nós não tenhamos nos estranhado em alguns dos seus dias, dos quais eu fiz parte de todos. É só que você foi muito importante pra mim. Como esquecer do seu primeiro dia com toda a família reunida? Daquelas primeiras semanas de janeiro esperando notícias de quem estava em Gramado? Ou das férias na praia com uma das minhas melhores amigas, vendo o sol nascer e conversando nos fins de tarde sobre Deus e sobre tudo que vinha em mente? Como esquecer de fevereiro e da família nova que eu ganhei? Aquelas seis meninas que ainda hoje permanecem no meu coração e na maioria das memórias que guardo sobre você. Como poderia eu deixar de lembrar das jantas que fazíamos todas juntas na república? Como esquecer do feriado de carnaval e de como tudo mudou por causa dele? Como esquecer daquela quarta à noite em que ele esperou cinco minutos embaixo do meu apartamento pra mudar todo o meu ano? Como esquecer das noites esperando ele voltar da aula para conversarmos um pouco? Das sextas à noite em que eu me preocupava em silêncio e orava pra que ele voltasse bem pra casa? Como poderia esquecer dos trabalhos que me enlouqueceram no início do ano e que eu acreditava que não daria conta? Ou como esquecer do acampamento de páscoa, do blackout, da tempestade no sábado à noite? Como esquecer das viagens para Sapiranga, Bento e Farroupilha? Como esquecer das pessoas que conheci e convivi durante o teu decorrer? Como esquecer dos cafés no fim de tarde com uma das grandes amigas que ganhei esse ano? Como esquecer dos conselhos que ela me dava e das dúvidas que ela respondia? Como esquecer das pessoas que entraram no meu grupo nos sábados à noite e que me fizeram mudar? Como esquecer do tempo com meus pais, tão restrito e tão fundamental? Como eu poderia deixar de lembrar das viagens em São Paulo e de como aquela briga mudou quem eu era? Como esquecer das minhas férias de inverno em casa? Como eu poderia esquecer do dia 27 de julho com os pássaros de dobradura espalhados pela casa? Como esquecer dos primeiros meses de namoro, dos últimos meses com minha família de sete, do casamento da minha irmã, das dúvidas sobre faculdade, dos amigos que ganhei, das formaturas que fui, das surpresas, das conversas, das cartas que recebi? Como eu poderia esquecer do passeio em Bento no final do ano? Como eu poderia esquecer do natal com fondue ou da tua última semana em Santa Maria? Como eu poderia esquecer do sorriso com que eu pude deixar você passar e recepcionar o ano que vinha? Não posso esquecer nunca disso, não quero esquecer. Serão lembranças, porém, antes de fechar a caixa e rotulá-la com teu nome, 2011, eu preciso te dizer: como foi bom viver esse ano, compreender situações e pessoas com olhos diferentes. Como foi bom ter mudado e entender que a mudança não termina contigo, que as pessoas, os lugares, os momentos que passei foram especiais, modificaram a mim, modificaram pra sempre. Sempre.

"Serão lembranças queridas, do futuro e da memória. Pra sempre será coragem, pra sempre será vitória!" Forfun