terça-feira, 15 de junho de 2010

Barulho


A noite estava fria, mas ela realmente não se importava. Ela precisava respirar e, para ela em particular, isso significava caminhar. Caminhar para o mais longe possível, como se a noite nunca terminasse e a realidade ficasse para trás. Uma quadra, duas... Faziam horas que ela estava caminhando, mas não tinha cansaço que a fizesse parar. A noite ficava cada vez mais gélida. Os termômetros nas ruas marcavam abaixo de 10º e tudo que ela usava era uma camiseta vermelha com os dizeres 'be stupid', extremamente adequados para o momento.
Ela havia passado por três semanas árduas de provas na faculdade, situações delicadas no trabalho e mais ainda em casa. E, apesar de todos esses fatos quase-heroicos, ela continuava se sentindo extremamente sozinha. Não havia barulho algum que amenizasse o silêncio que se alojara em seu coração. Era isso que ela estava fazendo, seguindo os dizeres de sua camiseta, sendo idiota e tentando, com esse ato impensado, encontrar um barulho que arrancasse aquela solidão de dentro dela. Mais algumas quadras percorridas, ela agora estava em meio a multidão, no centro da tumultuada cidade em que vivia. Feliz ou infelizmente não havia rostos conhecidos. Foi quando os olhos dela cruzaram com os dele. E ela se desnorteou ou, finalmente, encontrou o norte. Era um misto de querer correr e trocar de camiseta, arrumar o cabelo e encontrar forças pra sorrir, com um misto de felicidade e paz que a inundavam. Dentro da sua cabeça tambores soavam ritmadamente, fazendo um barulho absurdo. Barulho. Finalmente ela se sentia parte daquela multidão, não havia solidão, nem silêncio. Ela podia finalmente voltar para casa. Essa troca de olhares durou cerca de meio minuto, o suficiente para trazê-la de volta à vida. Então os olhares se descruzaram, o frio se fez conhecido novamente e ele passou junto com toda a multidão. Algum tempo depois, ela deu meia-volta e tomou o caminho de casa. Não importava que ela se sentisse sozinha novamente, contanto que ela pudesse lembrar que havia momentos como aquele de minutos atrás: vivos.
Então ela acordou, meio sem saber que horas eram, sentindo um frio tremendo. Ela empurrou seu corpo até o banheiro, acendeu a luz, lavou o rosto com calma, puxou o cabelo para trás e o prendeu. Observou sua imagem no espelho, ficou um tempo analisando os detalhes. Um rosto de quem havia lutado com a cama, o cabelo emaranhado e a boca levemente roxa de frio por estar usando apenas uma camiseta com os dizeres 'be stupid'.

3 comentários:

  1. hey Bah,mto bom teu texto,verdadeiramente vc escreve com o coração...parabéns garota,gostei muito.

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  2. Que Tchuni >.<
    Curti o texto õ/
    PS: onde tem essa camisa pra vender? Tô precisando :/

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  3. muito bom, realmente escreve com o coração!
    amo-te garota
    =**

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