Lágrimas tímidas rolavam pela sua face, faziam oito meses e a dor ainda era a mesma. Ela tinha as cicatrizes daquele dia, visíveis e invisíveis. Enquanto se agarrava firmemente à grade do lugar onde tudo ocorrera seus olhos embaçavam com a enxurrada de lágrimas e suas pernas fraquejavam obrigando-a a ceder e se aninhar junto ao solo.
Oito meses deitada em uma cama de hospital, a maior parte deles vegetando. Meses para se recuperar de um acidente. O corpo dela havia mudado, havia cicatrizes por toda parte, os olhos eram fundos e escuros, mas ela estava viva. Na época ela estava noiva. Ela e o noivo estavam voltando de uma visita os pais dela quando um motorista bêbado perdeu o controle do carro e os atingiu. O carro capotou inúmeras vezes, os dois foram jogados para fora do carro brutalmente. Ela sobreviveu, ele não.
As feridas abertas durante o acidente eram extremamente superficiais se comparadas à dor de tê-lo perdido. Não havia corte profundo demais que se igualasse ao buraco aberto no coração dela com a morte da pessoa que ela mais amava. Morte, a morte era um vazio, uma falta inenarrável, uma perda irrecuperável, uma dor. Uma dor que só ela sentia.
Faziam oito meses, a dor era excruciante, a vida parara há tempos. Ela poderia ter suportado todos os cortes e ferimentos do mundo. Poderia até viver sem um braço, uma perna ou até com a dor constante de uma ferida em aberto, mas aquela dor, aquele 'nada' que havia restado de sua maior alegria, aquilo era a mais pura covardia com ela. A única coisa que ela conseguia era se agarrar àquela grade, dia após dia, na esperança de ele voltar e abraçá-la. Ela não acreditava que ele podia ouvi-la, embora tivesse largado um bilhete, próximo ao seu túmulo. Esse bilhete era, para ela, a ligação que ainda havia entre eles. Ela precisava ao menos fingir que ele estava ali do lado e que conseguia entender sua dor através de palavras:
'Meu amor, hoje eu sei que suportaria todas as dores físicas do mundo, pois a que eu convivo me curva diariamente, tamanha é a sua intensidade. Hoje eu sei que dor nenhuma se compara a de ter perdido meu coração em um acidente, ele estava preso à você.'
perder alguém, independente da forma, é doloroso pra qualquer um. Essa dor ninguem entende, por mais que se tente. Adorei o blog. beijinhos
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